Blog que se rege pelas regras Dogma Aqui 2004. O que interessa é o que está escrito...e não quem escreveu

8/27/2004

Movimento Dogma-me Aqui 2004

Inspirado pelo movimento Dogme 95, e transpondo o conceito para o mundo dos blogs, o Movimento Dogma-me Aqui 2004 procura a pureza da escrita, sem recursos artifíciais e sem dar mais importância ao criador que ao criado.


Juro submeter-me ao seguinte conjunto de regras estabelecidas e confirmadas pelo Movimento Dogma-me Aqui 2004

1. A escrita têm de decorrer da forma mais pura possível. Não se podem corrijir erros ortográficos através de qualquer software. A correcção tem de ser humana. Não se pode também recorrer a dicionários e outros elementos artificiais que adulterem aquilo que realmente foi pensado. Ao recorrer a dicionários para encontrar sinónimos bonitos estamos a adulterar a pureza do imaginado.

2- Qualquer imagem ou som num blog deve ser do próprio autor. Não se pode recorrer a imagens e sons criados por outros. O mesmo se aplica a templates, scripts..etc

3- Estão proibidas as alienações temporais e geográficas. A acção ocorreu ou está a decorrer. Não pode ser futuro.

4-Tudo tem de se passar em locais possíveis. Não se pode abordar acções no fundo do mar, no topo das estrelas...etc. A acção descrita tem de ocorrer num local onde o criador já esteve. Pode-se usar estes termos como metáfora.

5- O criador não interessa. O que interessa é o que está escrito. Não há créditos nestes blogs.

Para além disto, enquanto escritor, juro abdicar do gosto geral! Já não sou um artista de tarefas. Juro abdicar de criar uma “obra” correcta, uma vez que penso que o instante é mais importante do que o todo. Juro fazê-lo por todos os meios disponíveis e à custa de todo o bom gosto e de todas as considerações estéticas. O criador existe e é puro ao máximo. Não deixa de escrever X por ser políticamente mais correcto.

Assim faço o meu voto de castidade.

Lisboa, 27 de Agosto de 2004

(em vigor a partir de hoje)

Sabem o que é surrealidade?

É quando não acontece nada.

Lá ia eu a caminho de casa, num táxi conduzido por uma espécie quase em vias de expansão; o Toni Josimar taxista. Eu tenho um ar meio xunga e normalmente tenho que andar com um very light na mão e sirene no boné, para que estes tipos parem os seus carros à noite.
O Toni tem medo de quase tudo. Os pretos que apanha no Colombo são os piores. Eu não sou preto (apesar de ter 5 cm a mais, segundo fontes fidedignas- Especialmente a Fonte da Telha). Estou queimadinho e uso t-shirts ostensivamente laranjas. É difícil parar um taxi para me levar para casa.
Mas lá vou eu.
–Taxiiiiiiii!!!
Era uma noite quente como tantas outras e parecia tudo normal.
Como eu estava errado!
Então não é que, mesmo ao pé do local onde decidi atracar e esperar pelo Toni, dois bifes decidem montar uma tenda. Senti-me no Chapitô. Imaginem-se de pé, em plena avenida, quando de repente um tipo começa a pregar estacas no chão. O outro parecia meio surpreendido com o amigo, mas não lhe ficou atrás, pois trazia um urinol (daqueles grandes em cerâmica) nos braços. E ali ficaram.

Say What?

Pensei que estava num filme e esperava que alguém dissesse “Corta”. Tal não aconteceu e no meio disto tudo o surreal era mesmo eu.
Passaram uns minutos e um dos ingleses continuava a tentar montar a tenda. O outro, de urinol na mão, cantarolava um hit dos loucos anos 80 : “Take on me” dos Aha. Enfim...

Oh Yeah

Vislumbro a subspécie taxista. Começo a fazer sinais e ligo o very light. Os ingleses ao verem aquilo aproximam-se de mim e começam a entoar canticos de futebol. “There were 3 german bombers in the air...e tal”. Lindo!!!

Oh Fuck!

Oh não!!! O taxista parou no semáforo no início da rua. Aquele semáforo é conhecido em Lisboa como “O mais longo vermelho lisboeta”. São apenas 2 minutos à espera que os transeuntes inexistentes passem. Melhor ainda. Tem som, tal como em Madrid. Um pássaro dentro do sinal avisa os invisuais de que podem atravessar . Como devem imaginar há imensos invisuais às 3 da manhã numa avenida. Isso é senso comum.

Auf Auf!!

Um cão (Sim, o animal) passa a passadeira (Sim, é um pleonasmo propositado) apressadamente(Sim, é uma aliteração propositada). Naturalmente que aquela pressa leva-o a tropeçar e cair (Sim, teve um traumatismo ucrâniano). Teria apenas 3 patas, e ia dar uma mija? Seria invisual? Na verdade nunca saberei. Certo é que o estranho pássaro que vive dentro do semáforo o atraiu. Na volta é um antigo cão de caça, agora abandonado. Já acredito em tudo.

Oh Fuck... and now this

Aparece então, nos dois minutos mais longos da minha vida, um russo. Ena. Se aparecer um indiano podemos fazer um anúncio da Benneton.
Bingo.
Quê frô?- lá diz ele.
Ó meus amigos, por favor. Será que um tipo com dois ingleses a cantarolar cânticos de futebol (estando um deles com um urinol na mão), enquanto montam uma tenda, tem discernimento para comprar flores?

Deves...deves....

Uau. Abriu o sinal. Maravilha. Continuo com os sinais de luzes e ligo tb a sirene. Obviamente o taxista só me viu quando estava mesmo em cima de mim. Travou a fundo e parou 10 metros mais à frente. O pesadelo acabou.... NOT
De dentro do taxi ouço uma voz rouca. “Então, já mandou uma fodinha?”. Brilhante início de conversa. O homem estava alcoolizado e se o Greanpeace o encontrasse levava-o para testes.
Já imaginaram se um carro andasse a álcool? E se o álcool fosse fornecido por uma ligação directa ao condutor, ou melhor ainda...ao tipo que vem ao lado? Boa ideia.
“Ó amigo, leve-me à Amadora sff”, disse eu. “Hein? Oi?”, responde ele. Maldição. Só me faltava um bêbado para me conduzir para casa. E lá vamos nós.

Zunnnnnnn....

Quem me ouvir deve pensar que sou um racista. Não sou. Sou mesmo parvo. Na verdade, se há gente que detesto são aqueles branquinhos mete nojo- gajos como eu.Ó que raça maldita.
Quando dou por mim estou a subir uma avenida. “Ó amigo, não devia estar a descer”, lá digo eu ao Toni. “Tem razão”, responde ele”. E lá damos meia volta. Mais dois minutos parados no semáforo. Fiquei feliz porque os ingleses lá montaram a tenda e agora estavam ocupados em arranjar sitio para o urinol, ou seja, estavam na fase da decoração do lar. Bonito.
O cão entretanto já estava a ser amamentado pelo semáforo; o Russo comprou as rosas ao Indiano e andava a deixar uma rosa em cada limpa vidros dos carros da avenida.
No meio disto tudo perco-me na música que passa na rádio. “99 problems” do Jay Z. Interessante.

The Bitch

Gosto imenso de rappers que tratam as mulheres por cadelas, putas e outras aves de rapina. Houve uma altura em que isso era pecado. Nasceu a Ursula e tudo a vingar-se deles..Agora isso é tão políticamente incorrecto que até acho piada. Foge à regra e brevemente o dito deve ser assassinado, ao melhor estilo israelita (um míssil que é disparado contra três prédios ao lado).
Enquanto ouço esta preciosidade musical, observo as prostitutas que se amontoam nas esquinas de uma universidade bem famosa pela doença dos óculinhos. Esta doença é uma continuação da famosa doença do pézinho e na faculdade ataca todos os individuos letalmente. Isto só acontece num meio ambiente propício, num habitat de excepção. O IST é um dos últimos sítios afectados pela doença. A partir do terceiro ano da faculdade começam a crescer uns óculos cada vez mais graduados e super intelectuais.

Lamaze

Uma vez disseram-me duas formas de controlar os nervos quando conduzidos por um taxista bêbado. A primeira é respirar como as mulheres durante o parto (para tentar relaxar). A segunda é mesmo uma epidural . Escolhi a terceira via. Estou mais bêbado que tu. SE começarem a fazer bastante chinfrim de bêbedos no táxi, o tipo desperta e ameaça-te logo com o pé de cabra que trás no porta-luvas. Na realidade não é um porta-luvas, é uma ligação directa à base do alfeite.
Se há algo mais estranho que a mala das raparigas (onde cabe lá tudo), esse algo é o porta-luvas do taxista. Havia um até que tinha um aquário e desconfio que este é um T3.

www.taxi.com

Quase a chegar. O Toni Josimar lá fala das minas todas que vai papando. Ele é zzt para ali, zzt para cá. O homem é como a ligação normal a um isp. Quem usufruir dele tem de o partilhar com 49 utilizadores.

Fsssssssssssssssssssssssssssss.... pum

É este o som dos fogetes quando chego. Tudo mental claro. Paguei 7 € . E fui dormir....
E no fim o que é que fica?
O elemento surreal da noite. EU.